quinta-feira, junho 21, 2007

Dom Quixote de Salvador Dalí

terça-feira, junho 19, 2007

Abraço e abrigo

Certo, certo. Isto é um blog. Ou um diário, melhor dizendo - para seguir os conselhos do Mestre Ariano Suassuna - este cavaleiro que aos oitenta anos se renova como defensor da cultura genuinamente nacional.
Isso em tempos de globalização.
E para manter um diário virtual “atualizado” nada como recorrer ao revolucionário método de inspiração instantânea conhecido como “copiar e colar” que adotei nessas últimas semanas para manter o Café Noturno movimentado.
Afinal incrementar o próprio espaço com os textos dos outros é refresco...
E que “outros”.
Então permaneci muito bem acompanhada por Carlos, Arnaldo, Marina, Clarice...
No entanto, hoje, depois de quase um mês sem mexer a pena, (ou o teclado), e tendo já saciado a meninice com a gincana proposta por uma amiga de manter o diário agitado com artigos sobre o amor, eis que novamente arrisco compartilhar impressões e palpites.
E estou em estado de graça.
Sob impacto de Brecht, Beckett, Ariano e Tadashi Endo.
Tudo ao mesmo tempo agora aqui dentro fervilhando e transbordando em histórias que quero contar ao pé do ouvido.
Nunca tive tanta certeza como hoje de que devo alimentar dúvidas necessárias.
Brecht convida à ação, à luta, ao despertar da consciência.
Provoca, perturba, sacode, puxa pela gola da camisa, questiona, grita, busca, alcança, olha no olho: “e você o que pode fazer pra mudar essa realidade?”
“Qual é o seu papel nessa situação?”
Beckett apresenta a inércia, a letargia, lassidão. Catalepsia coletiva. O silêncio.
O imobilismo. A ausência. O vazio. O deserto. O ar em suspensão. O labirinto.
O olhar em soslaio que constrange sem qualquer palavra.
Um, a convocação. O outro a indiferença (?).
Um, a exclamação. O outro, a reticência.
Um, a interrogação. O outro, ponto-parágrafo.
Em ambos, o lirismo. A beleza. A condição humana. O Homem e sua relação com o poder.
O poder que há no Homem, para a transformação e para a destruição.
Margens diferentes de um mesmo rio. Eu quero deitar nessas margens.
Beber desse rio.
Nunca tive tantas dúvidas quanto a certezas indissolúveis.
Quanto ao discurso único.
E Ariano? Só os artistas dispensam pronomes de tratamento relativos à idade ou condição social. E por isso posso chamar este senhor com jeito de avô que conta histórias pra gente dormir, pelo primeiro nome. E posso babar, na fila do gargarejo em palestra de fim de tarde.
E ter menos medo, (ou pudor), do que há de quixotesco em mim. Ainda há espaço pra delicadezas e altruísmo. Ainda há tempo pra mãos abertas e olhares estendidos.
Ainda há abraço e abrigo.
Não, não é o fim da História. Mais que nunca hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás!
E Tadashi Endo. Este senhor japonês de sessenta anos de idade, com corpinho de vinte e alma milenar. Bailarino, coreógrafo e diretor do Mamu Butoh Center, Tadashi dirigiu o espetáculo
Shi-zen, 7 cuias do grupo Lume e com ele recebeu duas indicações ao Prêmio Shell.
Agora Tadashi vem comemorar seus sessenta anos (inacreditáveis!!!).
Com uma série de apresentações viscerais, intestinais, uterinas (??!!!)
Olhos e bocas, músculos e tônus. Força que traduz delicadeza.
Virtuosismo? Que seja. Ele sabe o que faz e pra quê faz. E transborda, nos alcança e constrange por nosso modo blasé ocidental. E por isso mesmo nos encanta.
Movimentos mínimos, precisos, e, intensos. Tesão e carinho.
Estes senhores são os pilares que tornam a vida suportável.
Não preciso de droga. Não é discurso moralista, é confessional. Gostaria que mais pessoas os conhecessem...
Nunca tive tanta certeza quanto à resposta para a questão: Por que fazer arte?

Para existir.

segunda-feira, junho 18, 2007