segunda-feira, dezembro 06, 2010

agora
é o tempo que escrevo
o que não leria
é o momento que em que me atrevo
e jamais saberia
se devo
ou me recolheria
a ler os livros
que nunca escreveria

terça-feira, novembro 30, 2010

Aniversário...

passa tempo
passa farto
passa lento
largo de passar
passa dentro
pelo avesso
o verso
que vou buscar
passa imenso
e abraça
quieto
a memória
que invento
pra vida ficar.

segunda-feira, novembro 29, 2010

RESSALVA

Versos... não
Poesia... não
um modo diferente de contar velhas histórias

Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás )

sexta-feira, novembro 12, 2010

domingo, agosto 29, 2010

domingo à tarde

ô denguin
quero só colim de tempo
chamego no meio da tarde
sem culpa nem medo de parecer ingênuo
quero só a rede no fresco das horas derretidas
desse verão de agosto
quero só esse gosto de capim limão, cheiro de manjericão e lua de Cuba
em Lumiar
quero só esse sossego
que acolhe, aquieta e aquece
no silêncio de um domingo de sol.

quinta-feira, agosto 26, 2010

agora

acode aqui
nénzin
acorde
acuda em mim
a corda é curta
corre apruma
segura minha mão

quarta-feira, agosto 25, 2010

aqui

me diz mamãe
donde eu vim
de boca aberta
de sono solto
e de colo perdido
diz mãe
pra onde vou
com o abraço quieto
o sorriso preso
e a vontade de dormir
aqui

sexta-feira, julho 30, 2010

o dia se dissolveu assim
dos cantos varridos,
da escada lavada,
ao som do camelo: deserto que cresce...
almoço na pensão, soninho e risadas com tangerina
arte no meio do nada e circo entornando gente
tarde azulada e banho de cachoeira de balde
amor então
é assim
escorrido
escorregado
pelo vida

terça-feira, julho 20, 2010

quinta-feira, julho 08, 2010

o corpo dói
inexplicavelmente um cansaço crônico
que o calendário, o hipotireoidismo ou a rotina
não acomodam.

não é o tempo, a saudade, a vontade ou medo.

é algo que se fez da mistura de tudo isso
enquanto eu vivia
e agora que acordei
caminho a passsos retos.

quarta-feira, maio 19, 2010

de tudo, um tanto,
o que (con)tive?
de quê?
ou quanto?
aqui retive
e qual
espanto
daqui revive
qual o quê?

meu tempo

pronto!
estou aqui.
esperando
de novo
esse sabor
Godot vai me socorrer?
acho que já sei a resposta
"que horas são?"
"perdi (o) tempo (de)
espera!
agora quem sabe posso
assistir ao tempo
partir

quarta-feira, abril 28, 2010

Pão de doce
Antes d'ocê, o Sol que acordava em minha boca perdia-se em sujeira rabiscada em papel de pão dormido... olhos arregalados de poeta insone que escreve pra sentir um bocadinho neste deserto encrespado de minh'alma...

Agora, óia o solzão que faz quando é noite e ainda é dia. Qual rabisco se a boca freme irradiações solares de um beijo estendido que arregala a vida, e se do pão dormido faz colorido doce?!

Antônio Hidalgo

quinta-feira, abril 01, 2010

Minas é assim

me busca e oferta

girassóis pra mim

sexta-feira, março 19, 2010

segunda-feira, março 15, 2010

UNO SEM VERSO

Por que se suicidam as flores quando se sentem amarelas?
Pablo Neruda.


Já se disse da História mais do que sobre a vida. Teorizou-se bastante ao ponto de cindir o mundo das letras do mundo das paixões cotidianas. Fez-se da abstração o sentido último da atividade pensante como se atividade tivesse sentido e conforto na imobilidade de um ponto.
Pontinhos de interrogação vertidos em alunos encharcam as instituições de ensino superior todos os anos ou semestres com a curiosidade própria da juventude que em qualquer tempo quer estar à altura de seu tempo para ver adiante. Universidade, capela que vela o conhecimento criado pela humanidade. Bendito carneiro, que promete com sua expiação um mundo abastado de trigo e canto – feliz. "Veremos outras matizes de cores", dizia eu para um amigo quando me fiz estudante de história.
Nada sabia sobre um maldito consenso gerado em outras terras que afirmava que a vida em todas as suas dimensões era vendável. Paulo Freire e sua utopia revolucionária? Besteira. Da educação se fez um pacote, mercadoria de vitrine, e os educadores atônitos embarcaram no projeto covarde das milícias empresariais. Mais uma vez a vitória do abismo que separa o labor especulativo da vida concreta dos povos.Voltamos à escolástica medieval? Quase. Entramos na Idade da pragmática do cálculo que mensura custo e benefício a serviço de uma produtividade nociva. Ontem, as letras a serviço da prova racional e inconteste da existência de Deus. Hoje, os esforços para aplacar a fúria do Deus-Mercado.
No meu caminho pela História-Institucional esbarrei-me em muitas dificuldades, sobretudo, no falar tóxico dos intelectuais de gabinetes, gente feia que seduz somente os fracos de espírito. Uma mórbida fixação pelo falar enrolado que diz mais do grupo hermético, orgulhoso de seu lugar no mundo, do que sobre História e as implicações desse saber para a vida. Dificuldades outras - de adaptação mesmo! - quando constrangimentos alheios prescreviam minha ética condenando-me ao embotamento. Assédios morais, para os que se viciaram na linguagem dos copistas modernos. Queria cores - estudante de história, enorme ponto de interrogação: Deram-me a assepsia de um conhecimento aplicável aos interesses do meu umbigo desde que ele fosse compatível aos interesses do mercado.
Pelos corredores, ainda se ouvem alaridos assustados em esforço vão para abafar a angústia de uma possível vida sem ordem onde o estômago se faz mais presente do que os sonhos. Salve-se quem puder! O deboche é ensinado com esmero, distintivo dos que se querem mortos com a alegria fingida dos meio-sorrisos. Se quiser a alcunha de ex-revolucionários, por que não? Serve qualquer disfarce para entorpecer a vida. Aqui os poetas são charlatões, escárnio do niilismo de intelectuais debochados - os merdinhas de sempre, decrépitos em sua atividade de morte, concentrados em sentenciar verdades dentro de seus prumos engravatados com ares desleixados de coroas "ligadões" . Aqui, a vida sempre está pela metade, e o coração hipotecado.
Nós. Geração do consenso? Covardes temerosos do parricídio necessário?Talvez o vermelho renitente de uma flor que se quer amarela. O mesmo vermelho que correu das veias dos antigos, velhos garrucheiros a disputar o amor à bala. Amor que não se agüenta: violenta o mundo criando caminhos diversos, in-versos. Nós, alunos vertidos poetas, apanhadores de sonhos dos tempos passados, portanto, do tempo por-vir.Historiadores. Mais que isso: Revolucionários! Crianças a construir castelos para destruir com o peito sempre aberto de Sol de todos os Outubros que foram, são e virão.
Antônio Hidalgo

quinta-feira, março 04, 2010

quarta-feira, março 03, 2010

o encontro

com Hidalgo

a conversa no bar
os ônibus no sinal
o tempo cúmplice
o dia acordando
eu acordando
em você

a bola adormecida na várzea
os pés na mangueira trançando o vento
o grito salgado no suor que escondi
a poesia febril que a gaveta comeu
me viram
de novo
e...
o encontro
pronto!
disse.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

...que linda és...

...acabei de conversar no msn com Raquel,
a amiga paulista que conheci em Cuba.
Ah! Na verdade acabei de falar pelo celular com Lili, que não vejo há um mês: quando cheguei de Cuba ela estava indo passar o carnaval em Ponta Negra.
Falei sobre a música de Cuba e dos novos amigos que me levaram pros blocos daqui...
Também acabei de postar mais algumas fotos no orkut, claro, de Cuba.
E, acabei de responder ao e-mail da Malu pra gente ir ao teatro amanhã, sexta.
Ah! A Maluuuu, companheira de quarto. Em Cuba.
Falei ainda agora na caixa do gmail com Cintia sobre... Cuba.
E ontem à noite, uma hora de blá, blá, blá com Max, metade sobre Cuba.
Um pouco antes tinha respondido (em espanhol! Ah! meu querido dicionário...) mensagem de Giselle e Ernesto jornalistas cubanos que conheci na última noite em Cuba.
É, parece que estou encharcada do morrito, da canchanchara e da lua de Cuba.
Está tudo aqui! E é tanto tudo que sei que só aos poucos essa cachoeira vai respingar em forma de palavras.
Não falta o que dizer, falta vontade de ordenar racionalmente.
Ainda quero só sentir o turbilhão...
Ouvi de um amigo: "empolgada, hein!"
Ele não sabe, nem imagina... E como não posso explicar nem pra mim, só disse: "é, sou assim!"
Traduzir algumas impressões...
Como? Não conseguia nem pra quem estava lá do meu lado!
Porque as percepções são imediatas e vinculadas às histórias de cada um.
As leituras e interpretações intimamente ligadas às referências que cada um traz na bagagem. O imaginário...
Memória e expectativas sobre essa Ilha que desafia o Império!
É isso!
A pequena e digna Ilha que desafia há mais de cinquenta anos o Império.
Cujo povo, festivo, logo percebemos, se organiza nos Comitês de Defesa da Revolução e discute o que é melhor para cada cidadão. Simples assim! A partir dos quatorze anos todos estão automaticamente cadastrados nos Comitês e convidados a participar dos debates.
Assuntos como a limpeza das ruas, iluminção, rendimento na escola fazem parte da agenda dos adolescentes. Conversei com alguns, troquei e-mails.
Intenet lá não é fácil, não é barato. Somente alguns podem.
E, claro, socializam com os amigos.
Isabel é uma dessas jovens. Falamos sobre festas, moda, planos para o futuro.
Sobre o bloqueio e a história deles.
Em todos com quem conversei há um traço em comum: orgulho.
Dos ex-combatentes aos "playboys" de Cuba - sim lá há! Os meninos e seu figurino peculiar, como os daqui: cabelo espetado, com reflexo. Camisa justa, calça também e cintos! Cintos arquitetônicos! Bem-humorados! -
Orgulho. Eles sabem quem são, o porquê do bloqueio. O motivo.
E o motivo faz toda diferença!
O bloqueio não é algo abstrato, uma figura de linguagem, não!
É o instrumento utilizado pelo líder capitalista para atingir uma nação que simplesmente levou a cabo seu desejo de exercer sua soberania. Cuba pratica diariamente seu direito de viver como bem quer. Sem a interferência tirânica do país que se autoproclama defensor nº 1 da democracia, liberdade expressão e pensamento, dos direitos humanos e, que no entanto mantém há quase dez anos cinco cubanos presos, dois deles sem qualquer contato com a família, após um julgamento no mínimo suspeito: em território americano (Miami) por autoridades americanas.
Sim, o bloqueio encarece, dificulta, exige paciência, sem dúvida.
Mas esse mesmo bloqueio reforça os laços de solidariedade. Porque coloca todos no mesmo barco. Exceto os que recebem dinheiro de familiares de Miami, que têm mais conforto, por terem acesso ao consumo: celulares, tênis, óculos, jeans de marca...
É, a "ditadura cubana" permite... Assim como permite em seus canais de TV aberta novelas brasileiras, filmes americanos, clips da MTV.
Enquanto nós democratas fomos aprendendo nas palestras de lá: os deputados trabalham até doze horas por dia, porque não recebem salário por sua atividade parlamentar, então têm dupla jornada. E a eleição é feita a partir dos currículos dos candidatos afixados em locais determinados.
Aprendemos tanto em duas semanas. E sentimos o quanto foi pouco. Quero mais! De Cuba, que linda és!
Logo...
Sim...
Por enquanto vamos degustando, saboreando. Algo muito mais doce que a canchanchara.
Esse mel, esse cheiro, (d) esse orgulho.
Porque é isso! Eu falava durante a "noche suramericana" com Carlos nosso guia charmoso, que fala cinco idiomas ( e que agora é meu amigo no facebook): "as dificuldades que vocês têm, não são de atendimento num hospital, ou aceso à Universidade. As dificuldades que vocês têm de consumo, tem um motivo claro: o bloqueio. E saber isso.
O motivo. Faz toda a diferença!"
Ele assentiu em silêncio... Sorriu. Um abraço.
E fomos dançar.

sábado, janeiro 23, 2010

sempre eu quero

"Mais foi a primeira palavra que me repeti intensamente na minha infância.
Maisi mamã, maisi mamãe.
Fosse guaraná, fosse coca-cola.
Fosse coca, fosse cola.
Fosse amor ou desamor, ou qualquer outra espécie de dor.
Quero mais ser imortal.
Quero ser meu futuro ancestral.
Quero mais Tabacaria.
Mais Pessoa.
Mais Maria.
Mais Vinho.
Mais Poesia."
Angela Ro Rô.

Hoje não estou conseguindo escrever. Há uma alegria em borbotões em mim que essas palavras de Ângela traduzem. Aprendi ainda muito pequena a buscar o que queria.
Um pouco depois, adolescente, percebi que eu gostava de coisas que as amigas nem cogitavam desejar. Mais à frente entendi que gosto de gostar. Gosto de querer.
Ter um motivo pra provocar o movimento de ir. Pra algum lugar. Recentemente descobri que ainda há esse gosto que o trabalho, as obrigações e a auto-censura comum ao sensato comportamento adulto, maduro, embotam.
Mas que belas surpresas tem me trazido esse recém-nascido 2010!
Ainda gosto de gostar. Ainda quero mais.
Ainda acredito que "gente é pra brilhar, não pra morrer de fome...".
Ainda concordo com Caetano.
E só tenho redescoberto isso porque embora o cansaço, a inércia, a apatia às vezes me encontrem, me abrecem e me congelem, passado o momento agudo da dor de falta de sentido, eu teimo.
Só tenho conhecido gente que aquece e faíca porque não sei bem o que fazer de diferente, se não teimar.
E encontro gente que quer ir à Cuba conhecer outra forma de viver. Quer conhecer gente que desconhece a fome, a miséria, a cegueira das letras.
Gente de lá. Gente de cá. Gente.
Que sorte a minha que tenho amigos com metade da minha idade. E me revigora porque falamos de sonhos. Que ainda há!
Sim, vamos pra Cuba com o coração aberto. Com a alma estendida. Inflamados.
Ainda há. Aqui e lá.
Aqui, já como outra gente fervilhando no teatro. Essa gente que me fez querer novamente o palco. Já volto pra ensaiar.
Já volto pra festa que vamos fazer e celebrar e confirmar que ainda há.
e...
eu quero é mais!!!

domingo, janeiro 10, 2010

Menos é mais

... é, quase um mês sem escrever!
o fim de ano me engoliu em meio a tarefas e compromissos que só me permitiram um pit stop no dia 24 - nem tanto assim porque inventei um "bacalhau carioca" - e dia 31, que resolvi decretar como o dia internacional de cuidados a mim mesma.
Faça chuva ou faça sol - saia ou fique em casa, não importa: é meu dia!
Fico comigo mesma. Repenso. Relembro. Reflito. Assito a mim mesma. Me olho. Me vejo.
O ângulo, a perspectiva, se alteram, sem dúvida.
Depende do humor do dia. Do clima do mês, da atmosfera do ano...
Fico em off. Stand-bay. De molho. Jiboiando! Como dizia uma amiga do colegial - como era o nome dela? Adriana, Andrea... Alessandra! Sim, Alessandra!
Ainda lembro daquele sorrisão nas aulas de química. Era única que sorria nas aulas de química. Ela dizia que gostava de ficar "jiboiando", ou seja fazendo nada pra ninguém. De preferência ao sol. Isso lá pelos idos de 1989. Não sei sei hoje ela ainda faz isso.
Descobri o quanto preciso... Jiboiar!
Ficar quietinha no meu canto, comigo mesma. Ouvindo o silêncio restaurador.
Sem relógios, prazos, metas.
Sem e-mails, torpedos, msn, telefones celulares, fixos, ou faxes... Faxes, faxes...
Só eu, comigo. Descobrir-se a si mesmo e perceber-se como um projeto em construção
- work in progress para os modernos - que precisa de ajustes constantes e portanto entender que é necessário parar de vez em quando. Ir à oficina. Revisão.
Considero isso imprescindível para colecionar menos amargura. Menos frustração porque fica mais fácil admitir as próprias limitações.

Se conhecer. Se permitir. Admitir.
A ... Falibilidade. Ou a humanidade de si.

Depor as armas. Encostar a armadura. Armistício.
Deitar na rede. Respirar fundo.
Sentir o cansaço. Saindo. O alívio, envolvendo a alma.
Deixar-se ser.
O mais simples que se puder. Só. Ser.
O menos é mais.