quinta-feira, dezembro 07, 2006

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Já é

Cheguei a acreditar que meu comentário semanal se tornaria anuário, mas, passado o deslumbramento da primeira crônica, que – use sutiã ou não – ninguém esquece, e o pavor do Word em branco, cá estou eu novamente.
E se a referência feita no início do parágrafo faz sentido somente para quem, como esta que vos fala, quer dizer, posta (???), cruzou a linha que separa a existência idílica e o reality show subalterno, tudo bem. Menos sentido teria se eu dissesse que há muito queimei este objeto de desejo e da dominação machista, porco-chauvinista e pequeno-burguesa ou que aposentei meu “porta seios”. Para deleite de Drummond.
Mas se ainda lembro (Ah! Marisa...) de Caetano esbravejando no Festival da Canção de 68 que, meninos, não vi (ainda não desembarcara nesta terra de palmeiras onde pia meu Dodô ): “essa juventude (...) vocês não estão entendendo nada...”, num ambiente cujo lema era “não cofiem em ninguém com mais de trinta”, me conformo em gritar no deserto, embora use megafone e tecla sap, para meus interlocutores preferidos: os jovens, ou, só pra manter a linha, a galera...
Não! Não sou uma balzaquiana mal resolvida, sou, no máximo, uma adolescente retardatária bem-humorada.
Também não sou comunista: não como criancinhas.
Apenas percebi que estava fazendo uma escolha ao me assistir tão feliz conversando com pessoas na casa dos vinte, que, se não leram Dostoievski, ou não ouviram Maria Callas, nem discutiram os recursos utilizados pela cultura de massa para transformar qualquer banalidade em show midiático celebrado por milhões de telespectadores, ainda mantêm e exibem um frescor revigorante, uma alegria contagiante que não vejo mais em meus pares cronológicos. Então, se seu parco vocabulário é fruto de uma cultura audiovisual, que à indústria de eletro-eletrônicos interessa expandir; se suas frases curtas e intermitentes nos revelam a miúda convivência com Vinícius, Cecília, Clarice... Num país onde o projeto de nação foi baseado na exclusão provocada por uma educação elitista, cujo pilar, a rede pública de ensino, tem como objetivo único o fornecimento de mão-de-obra minimamente treinada para acionar botões, ler manuais e utilizar o Excel, o que haveremos de fazer senão rir com eles? E chorar. Porque já é. Epígrafe de uma sociedade premida pela pressa e a produtividade, por números e gráficos, pelas competências e o mercado de trabalho, pelo fitness e o coiffeur, pelo sorriso de plástico e a bunda de silicone.
Por que time is money.
Por que já é...
E, no entanto, conheço Daiana, com seus olhos de amêndoa, curiosa sobre o magistério, flertando com a sociologia. Mulher. Delicada e firme.
E conheço Elaine, ávida por Michelangelo e Bosh. E conheço Antônia, tão linda que incomoda, porque não é só linda. E ainda me levam a admitir: Ah! Que saudade do tempo em que eu era espontânea... Sorriso fácil, ingênuo e largo.