terça-feira, maio 23, 2017


a árvore que está naquele lugar
como ela nasceu?
por que ela nasceu?
por que ela nasce?
o que lhe compõe?
o qu elhe atravessa?
importa saber?
Elá está lá!
E cresce!
Inteira!
ou aos pedaços.
Está lá!
Se reta ou inclinada
Ela está lá
Se nobre imponente
ou tímida, culpada

Está lá!
De qualquer forma
Está lá
Viva!
Então não há perguntas
não há respostas
Há o sentir
Se sentir
Comer e arrotar
degustar e gozar
Essa é a busca!
e vai crescendo
Movimento contínuo
Interrompido por milésimos
Os atravessamentos
E com eles engrossando
"o que não mata, engorda, filha!"
Tem dor.
Que também vira insumo
Também!

porque tudo está
Sinto
crescendo
virando flores
Ela está lá
Está lá.
Está.

(texto produzido durante a oficina  Life/Art The Process com Marie Clouse

domingo, abril 16, 2017

enquanto (não) digo



enquanto (não) digo
(e ouço Wild is the wind com Nina)
ela disse que
talvez
pudesse
um dia
e achou que as reticências
o silêncio
era o caminho
de uma descabelada declaração
mas não
não era possível ouvir
não se podia
era pouco
era dia
estava muito claro ali
era preciso uma noite, um piano, filme noir que só existia na cabeça dela
e lhe habitava toda a intensidade que talvez tenha ficado dos anos que não viveu
uma dor visceral, abissal que não conseguia discernir
e não deixava emergir
tal qual o pássaro que saltava dentro do peito, escondido
e todo aquele cenário implodiu
quando sorrisos solares alheios lhe atravessaram
desconhecia essa alegria
um susto essa festa toda
isso lhe era mistério
e fez o estômago dar voltas em si mesmo
nem sussurro, 
nem esboço,
 nem vômito
só o azedo na língua o rasgo mudo
lancinante que ia do esterno até o céu da boca
embora a polidez habitual permanecesse
e ninguém
ninguém nessa cidade
poderia imaginar
em qualquer momento se quer
o que se regurgita
aqui