sexta-feira, junho 29, 2007

Caminhos




Sei
a saia seca
no varal

Certo
O soco cego
no umbral

Sim
Um circo aceso
Um embornal

Sigo
Sozinho saio
de meu quintal



quinta-feira, junho 28, 2007



Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Os poemas - Mário Quintana. Esconderijos do Tempo.

segunda-feira, junho 25, 2007




Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora


Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Trechos de Os Estatutos do Homem de Thiago de Mello