sábado, dezembro 15, 2007

Ah!

São três da manhã e não quero dormir. Fiz isso o dia todo. Cansei.
Mas o que eu queria agora era teu braço aqui. Bem na minha cintura. Só. Sem palavras.
Nem precisava de você. Bastava teu braço e o silêncio.
E esse sorriso no canto da boca que me denuncia! Feito um gato se espreguiçando.
Saboreando essa rejeição que (agora sei) é tua companheira.
Somos parceiros nisso.
Ah! Quanto a isso você não pôde fazer nada.
E faço: “...ah! Não pode fazer nada. Ah!”
Como se faz no fim de uma golada de Coca-Cola.
E releio “Quadrilha”. Se dor serve pra alguma coisa. Que valha!
Soube que degustamos a mesma ferrugem na língua.
O celular desligado.
O e-mail não respondido. O cumprimento burocrático.
O peito apertado pela espera espremida.
Conhecemos o roteiro que seguimos. Cada um por seu desejo.
Por isso rio.
Ah! Não se pode fazer nada. Posso sim! Rio. Há um sorriso aqui no canto da boca.
Que (claro) você não vê. Mas eu sei que essa ferrugem nos mastiga os dois.
Há nisso uma ironia tão fina que mal sustento.
E nessa descoberta mais dor se transfigura. No canto da boca.
Não! Não podemos fazer nada. Só fingir que isso serve pra alguma coisa.
Ah! Não posso fazer nada. Nem beber uma Coca-cola:
“princípio de gastrite”.
Aí tomo uns chopes na Lapa ou discuto os costumes cariocas ou questiono o comportamento masculino na contemporaneidade. Ou...
Depois de certa idade se torna fácil ter um “papo interessante”.
O difícil é distinguir se é mais um clichê.
Se tudo é vaidade.
São três da manhã e o tempo é tão grande que dá medo.
Tenho tempo demais.
Tô de férias. Que medo. Tenho que arranjar o que fazer. Ai que bom que é Natal! Muita promessa pra embrulhar. Muita espuma pra soprar. Muito buraco pra preencher.
É. Eu posso fazer: ”ah!” E rir. Da tua dor. Que é minha.
E que tenho gosto em compartilhar. E dor em testemunhar.
“Ah!”