quinta-feira, fevereiro 19, 2009

sabemos

hoje provei um vestido pensando em você
olhei, virei, girei no espelho, dancei no provador
experimentando os volteios que trariam seu olhar pra mim
pensei qual seria seu pretexto pra dizer que eu "estava bem"
medi o comprimento: nem longo, que não vou pra festa, nem curto que não me acostumo
vi se tava amassando o peito, apertando a cintura, mostrando a calcinha
não, não tava
joguei o cabelo pra lá e pra cá
fiz cara de surpresa, ensaiando um improviso que certamente eu previ e que provoquei
amarrei as três fitinhas azuis, didaticamente, porque claro, você não saberia como fazer
alguns passos assim, assim, calculando meticulosamente o acaso de te encontrar, o sorriso espontâneo, o cumprimento formal, o abraço contido e olhar escorregadio
e as mãos. Ah! Fiéis companheiras que me dão frações do teu corpo.

torci, retorci, mirei, estudei, refiz o trajeto da coincidência
diluí o desejo sob a atitude correta: a discrição

mais comum e previsível impossível, sabemos

me espalhei, imaginei, suspirei, colori
e fui ao caixa obter o ingresso do meu sonho

passei direto e deixei o tótem ali no cabide
amassado, perdido, desprovido, inerte, inútil
como um abrigo que serviu ao devaneio
estou na janela
olhando pro tempo
daqui do meu canto
espiando, espreitando
pra ver se não perco de vista
o que já fui