domingo, dezembro 31, 2006

quarta-feira, dezembro 20, 2006

terça-feira, dezembro 12, 2006

Mãos quietas

Apenas escrevo. Febril. Como um remanescente dos surrealistas automáticos, hoje desbotados diante dos rascunhos frenéticos que se nos impõem as linhas tortas dessa existência. Mas ainda assim necessários, porque ávidos.
Ouvindo Maria Rita sonhado que é ela, Elis, mas não é.
São outros tempos.
"A hora do encontro é também despedida...”
Ah! borboleta perversa que valseia e tripudia.
E se ri de meu olho que parte da Leopoldina. Estica. Se atira.
Enquanto toureio o ímpeto à unha. Engolindo em seco essa água na boca.
Conservando o discurso pertinente. A voz adequada. O tom correto.
E as mãos quietas. Contidas.
Por quê?
Não sei. Só esse saldo de fim-de-ano. E as festas superficiais de amigo pedinte.
E o cansaço.
E essa sede.
De compor rimas pobres.
“É a vida desse meu lugar”

quinta-feira, dezembro 07, 2006

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Já é

Cheguei a acreditar que meu comentário semanal se tornaria anuário, mas, passado o deslumbramento da primeira crônica, que – use sutiã ou não – ninguém esquece, e o pavor do Word em branco, cá estou eu novamente.
E se a referência feita no início do parágrafo faz sentido somente para quem, como esta que vos fala, quer dizer, posta (???), cruzou a linha que separa a existência idílica e o reality show subalterno, tudo bem. Menos sentido teria se eu dissesse que há muito queimei este objeto de desejo e da dominação machista, porco-chauvinista e pequeno-burguesa ou que aposentei meu “porta seios”. Para deleite de Drummond.
Mas se ainda lembro (Ah! Marisa...) de Caetano esbravejando no Festival da Canção de 68 que, meninos, não vi (ainda não desembarcara nesta terra de palmeiras onde pia meu Dodô ): “essa juventude (...) vocês não estão entendendo nada...”, num ambiente cujo lema era “não cofiem em ninguém com mais de trinta”, me conformo em gritar no deserto, embora use megafone e tecla sap, para meus interlocutores preferidos: os jovens, ou, só pra manter a linha, a galera...
Não! Não sou uma balzaquiana mal resolvida, sou, no máximo, uma adolescente retardatária bem-humorada.
Também não sou comunista: não como criancinhas.
Apenas percebi que estava fazendo uma escolha ao me assistir tão feliz conversando com pessoas na casa dos vinte, que, se não leram Dostoievski, ou não ouviram Maria Callas, nem discutiram os recursos utilizados pela cultura de massa para transformar qualquer banalidade em show midiático celebrado por milhões de telespectadores, ainda mantêm e exibem um frescor revigorante, uma alegria contagiante que não vejo mais em meus pares cronológicos. Então, se seu parco vocabulário é fruto de uma cultura audiovisual, que à indústria de eletro-eletrônicos interessa expandir; se suas frases curtas e intermitentes nos revelam a miúda convivência com Vinícius, Cecília, Clarice... Num país onde o projeto de nação foi baseado na exclusão provocada por uma educação elitista, cujo pilar, a rede pública de ensino, tem como objetivo único o fornecimento de mão-de-obra minimamente treinada para acionar botões, ler manuais e utilizar o Excel, o que haveremos de fazer senão rir com eles? E chorar. Porque já é. Epígrafe de uma sociedade premida pela pressa e a produtividade, por números e gráficos, pelas competências e o mercado de trabalho, pelo fitness e o coiffeur, pelo sorriso de plástico e a bunda de silicone.
Por que time is money.
Por que já é...
E, no entanto, conheço Daiana, com seus olhos de amêndoa, curiosa sobre o magistério, flertando com a sociologia. Mulher. Delicada e firme.
E conheço Elaine, ávida por Michelangelo e Bosh. E conheço Antônia, tão linda que incomoda, porque não é só linda. E ainda me levam a admitir: Ah! Que saudade do tempo em que eu era espontânea... Sorriso fácil, ingênuo e largo.

terça-feira, novembro 28, 2006

terça-feira, outubro 31, 2006

Batom cor-de-boca

Por que logo hoje saiu esse sol tão claro? Ele não combina com a minha sombra grafite. Nem com meu humor ácido, ou meu sorriso amarelo. E esse cartão vermelho que ganhei? Fiquei pálida...
Mas continuei caminhando pelas ruas coloridas de verde-amarelo.
Ou será anil-encarnado?
Dói na vista o que não quero ver: essa felicidade alheia e incômoda. Essa maquiagem borrada de fim de nigth. Essa festividade controlada (necessária) regada a chope e esperanças midiáticas, sutis e brutais por isso mesmo.
Quero que a chuva venha e lave e leve e não releve, e revele, tal como Will Eisner numa noite dessas, aquilo que usamos o sol de domingo para esconder: eleição mais besta, mais sem sal esta, mais desbotada, mais sem paixão, mais burocrática. Vida que segue aceitando-se o discurso das boas maneiras, adaptando-se às convenientes convenções, enquadrando-se na cômoda pasteurização cotidiana.
E eu num café noturno, ou num bar da Lapa, quero ainda que me invadam os girassóis inquietos de Van Gogh, gritando: "chega da razão que me sufoca e me agrilhoa!".
Eu preciso desses tons surreais, das flores de Baudelaire e da voz da cantora careca. Eu preciso de um desafino, uma microfonia que seja, eu reclamo, faço cara feia, mas existo. Quero vozes dissonantes, arco-íris, conflito e alegria. Quero a troca, porque toda pessoa sempre é a marca das lições diárias de outras tantas pessoas. Quero o toque, a conversa, as mãos e os abraços. Quero todo amor que houver nessa vida. Não quero ter medo de sorrir para um estranho na rua. Nem de fazer amigos pela Internet que vou encontrar em carne e osso, ou vice-versa. Nem ter vergonha de minha melancolia. Nem pedir licença para sentir. Tal como Frida, criar novos trilhos por onde seguir. Não vou passar em brancas nuvens, né, Zeca?
Não quero o Prozac como antídoto do Lex, que embotam a criatividade. Ou o batom cor-de-boca. Quero o Flaubert de Bovary. Por que eu gosto dos que têm fome, dos que secam de desejo, dos que ardem, e digo aos jovens: envelheçam! Mas não oxidem. Não suas idéias! Não tão cedo, não tanto. Não à homogeneidade. À moda. Ao padrão. Aos ismos, às regras sem exceção. Aos regimes de exceção. Regimes? Só exceção! E leiamos o diário do jovem Werther.