sexta-feira, março 16, 2007

quarta-feira, março 14, 2007

Nada como um post depois do outro...

Nada como um post depois do outro.
Este deveria ter sido o título do meu artigo anterior.
Uma alusão explicita à tentativa de suavizar o tom aborrecido, quiçá rabujento de meus últimos rascunhos.
Intenção que agora retomo, visto que foi imediatamente abandonada ante o inominável.
Ao devastador efeito dos estilhaços que nos alcançam por meio de manchetes impressas, flashes televisivos, ou de janelas virtuais, venham de Bagdá, Bogotá, ou desta cidade - fratricida, fraturada chamada Rio de Janeiro.
Ah! Esta Gaia que devora os próprios filhos e os regurgita tal qual uma releitura antropofágica abortada. Tautologia.
Como conseqüência perplexidade, inércia e letargia. Pleonasmos que ratificam o olhar embaçado, o peito encolhido e as mãos quietas.
E, no entanto somos intimados por nossos gurus midiáticos a manter o pensamento positivo haja o que houver extirpando qualquer vestígio de melancolia, rotulada por nossa eficiente indústria farmacêutica como sintoma inadmissível de uma inconveniente depressão ou uma improdutiva síndrome do pânico, que devem ser indubitavelmente tratadas com os mais recentes lançamentos tarja preta de seus laboratórios.
Então seguimos em frente como o querem nossos sorridentes profissionais de psicanálise prêt-à-porter, (auto–ajuda para os íntimos).
E me flagro cantarolando o samba-enredo do último carnaval (lenitivo imprescindível a que nos permitimos e pelo qual nos perdoamos).
E reconheço conquistas alcançadas, pelas mulheres, por exemplo, que têm um dia marcado no calendário, o direito de ostentar a dupla jornada e a metade dos salários. Nem sei porque falo nisso. Faz uma semana e esse assunto de direito da mulher já ficou velho, varrido para o sótão jornalístico por mais um noticiário hemorrágico...Mas sim ainda temos a poesia! E hoje, eu disse hoje, é dia da poesia e embora eu tenha a imperdoável inclinação para recordar Anjos que são Augustos:

Chama-se a Dor, e quando passa, enluta
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!
Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça
Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amargosa da Desgraça!
E quando o mundo todo paralisa
E quando a multidão toda agoniza,
Ela, inda altiva, ela, inda o olhar sereno
De agonizante multidão rodeada,
Derrama em cada boca envenenada
Mais uma gota do fatal veneno!

Reconheço que somos possíveis enquanto admitirmos como um Caju adocicado:

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
Que ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio pra dar alegria.