terça-feira, março 22, 2016

Hoje já é quase amanhã
E eu lembro quase tudo que quase fiz
Quase disse a palavra burilada na garganta
Quase dei o abraço germinado no peito
Quase escrevi o poema adormecido na pena
Quase morri a morte distraída
Quase voei sobre as casas da Lapa no alvorecer de Chagal 
Quase mordi a boca oferecida
E revi pra chorar convulsiva
Amélie dissolver quase entregue em purpurinas dissonantes
Quase ...
Ah! Queridas reticências!
De verbo suspenso de quase ação
Quase amei intransitivamente meu querido Mário!
Quase cheguei e perdi o horário
Quase!
E como pessoa: vil, ridículo, perdulário

fui clown-bissexto
e perdi a corrida de marcha à ré
e perdi o bonde
e quase sorri
mas quase é tempo não nascido
não contado
é tom sépia 
desmaiado
quase é o tempo que esses tempos não conhecem 
só há flit, flash, fast
Ávidos 
quando quase chegam já se vão
De hoje amanhã nem cheiro têm
tempos sem tempo de cozer em forno a lenha 
de Penélope puída
em que não cabe o tempo plácido 
tempos de futuro do pretérito preterido
pois quando ia já não vai
só o presente contínuo de gozo imediato
e já é
onde amores fluidos 
se vão diluídos
nos olhos quase profundos...
Que à noite vêm