quarta-feira, outubro 03, 2007

terça-feira, outubro 02, 2007

Bom te ver

Ah! Que bom te ver! Fazia tempo...
É engraçado como a memória nos protege da insipidez cotidiana.
Faço mil coisas, cumpro trezentas tarefas, parece que me esqueço, penso que me esqueço.
Me convenço que esqueço.
Mas se te encontro...
Me reencontro: sou um homem provisório, efêmero, inconsútil.
Todos os dias desisto de ti. Todos os dias preciso desistir.
Mas a memória me salva da desfaçatez íntima.
Tua sombra sépia me acompanha e reflete aquilo que me denuncia a mim mesmo.
E ao qual me rendo imediata e incontestavelmente.
E admito que o tempo tem vida própria dentro de mim. Ele fica sentado me vendo passar. E se ri de mim se por um acaso, coincidência, infortúnio ou fortuna confirmo o relógio parado. Enquanto escrevo atendo telefonemas, envio e-mails, pesquiso sobre os quarenta anos da morte de Che Guevara, opino sobre a roupa da minha colega de trabalho, faço contas, faço planos nos quais não há tua presença, decoro um texto que li contigo. E colho a Rosa da terra queimada que plantaste em mim num crepúsculo que (eu sei) só eu lembro e releio as confissões virtuais em letras minúsculas guardadas em pasta com teu nome.
Ah! Que bom te ver! Faz tantos dias e foi ontem. E estou lá. E estou aqui.
Mas não podes me ver, me saber, me ler. Não há como. Por mais que me mostre.
Por mais que eu te mostre minha ausência.
Que bom te ver assim como em ondas que vêm e te trazem e logo te levam dissolvido na minha memória.
Mesmo que essa tua saudade não possa ser derramada por mim.
Bom te ver.