sexta-feira, março 19, 2010

segunda-feira, março 15, 2010

UNO SEM VERSO

Por que se suicidam as flores quando se sentem amarelas?
Pablo Neruda.


Já se disse da História mais do que sobre a vida. Teorizou-se bastante ao ponto de cindir o mundo das letras do mundo das paixões cotidianas. Fez-se da abstração o sentido último da atividade pensante como se atividade tivesse sentido e conforto na imobilidade de um ponto.
Pontinhos de interrogação vertidos em alunos encharcam as instituições de ensino superior todos os anos ou semestres com a curiosidade própria da juventude que em qualquer tempo quer estar à altura de seu tempo para ver adiante. Universidade, capela que vela o conhecimento criado pela humanidade. Bendito carneiro, que promete com sua expiação um mundo abastado de trigo e canto – feliz. "Veremos outras matizes de cores", dizia eu para um amigo quando me fiz estudante de história.
Nada sabia sobre um maldito consenso gerado em outras terras que afirmava que a vida em todas as suas dimensões era vendável. Paulo Freire e sua utopia revolucionária? Besteira. Da educação se fez um pacote, mercadoria de vitrine, e os educadores atônitos embarcaram no projeto covarde das milícias empresariais. Mais uma vez a vitória do abismo que separa o labor especulativo da vida concreta dos povos.Voltamos à escolástica medieval? Quase. Entramos na Idade da pragmática do cálculo que mensura custo e benefício a serviço de uma produtividade nociva. Ontem, as letras a serviço da prova racional e inconteste da existência de Deus. Hoje, os esforços para aplacar a fúria do Deus-Mercado.
No meu caminho pela História-Institucional esbarrei-me em muitas dificuldades, sobretudo, no falar tóxico dos intelectuais de gabinetes, gente feia que seduz somente os fracos de espírito. Uma mórbida fixação pelo falar enrolado que diz mais do grupo hermético, orgulhoso de seu lugar no mundo, do que sobre História e as implicações desse saber para a vida. Dificuldades outras - de adaptação mesmo! - quando constrangimentos alheios prescreviam minha ética condenando-me ao embotamento. Assédios morais, para os que se viciaram na linguagem dos copistas modernos. Queria cores - estudante de história, enorme ponto de interrogação: Deram-me a assepsia de um conhecimento aplicável aos interesses do meu umbigo desde que ele fosse compatível aos interesses do mercado.
Pelos corredores, ainda se ouvem alaridos assustados em esforço vão para abafar a angústia de uma possível vida sem ordem onde o estômago se faz mais presente do que os sonhos. Salve-se quem puder! O deboche é ensinado com esmero, distintivo dos que se querem mortos com a alegria fingida dos meio-sorrisos. Se quiser a alcunha de ex-revolucionários, por que não? Serve qualquer disfarce para entorpecer a vida. Aqui os poetas são charlatões, escárnio do niilismo de intelectuais debochados - os merdinhas de sempre, decrépitos em sua atividade de morte, concentrados em sentenciar verdades dentro de seus prumos engravatados com ares desleixados de coroas "ligadões" . Aqui, a vida sempre está pela metade, e o coração hipotecado.
Nós. Geração do consenso? Covardes temerosos do parricídio necessário?Talvez o vermelho renitente de uma flor que se quer amarela. O mesmo vermelho que correu das veias dos antigos, velhos garrucheiros a disputar o amor à bala. Amor que não se agüenta: violenta o mundo criando caminhos diversos, in-versos. Nós, alunos vertidos poetas, apanhadores de sonhos dos tempos passados, portanto, do tempo por-vir.Historiadores. Mais que isso: Revolucionários! Crianças a construir castelos para destruir com o peito sempre aberto de Sol de todos os Outubros que foram, são e virão.
Antônio Hidalgo