sexta-feira, maio 11, 2007


A última do pódium

Você é o nada que que me pesa às costas
O vazio que faz volume
A ausência que me faz sombra
num dia de sol
O espectro que me imobiliza
A indiferença que incendeia meu estômago
A eloqüência do soslaio convincente
Que grita a negativa no meu peito surdo

A reticência que vaticina
As lacunas do discurso frágil
O avesso do diálogo fluente
O solilóquio febril resignado

O cumprimento civilizado
Das mãos sadicamente delicadas

O silêncio que permeia a dor
A última do pódium
Transfigurada na máscara pertinente
Que me transborda pela retina
E que alimenta o murro ensaiado
Abortado em mim
E nem suspeita

terça-feira, maio 08, 2007


Poética

Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expedienteprotocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionárioo cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amanteexemplar com cem modelos de cartas e as diferentesmaneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare—
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


Manuel Bandeira