sexta-feira, novembro 18, 2011

um dia

dispense o sorriso ensaiado
o tom comportado
e vá embora

não pense no céu nublado
guarda-chuva quebrado
no frio lá fora

tudo vai se assentar
agora

esse tempo deve passar
um dia










quarta-feira, outubro 26, 2011

eu quero é esse sol imenso
rasgado
se derramando sobre mim
que eu
de boca arreganhada
o recebo
e concebo
mil raiozinhos febris
infantis
pululando no peito inflamado
de vida
eu olho pro meio da rua
sozinha
enquanto partidos leiloam idéias
passeio no passeio público vazio
o que não falta é fé
porque ainda vai dar pé
me negue quem quiser
pra chegar lá

quem

disse?

porque ainda vai dar pé
que negue quem quiser
o que não falta é fé
pra se chegar

onde?

terça-feira, outubro 04, 2011

dos dias chuvosos
fica
a brisa nas mãos
a sombrinha atrás da porta


e a boca aberta mirada pro céu
a saborear a rua no meio da vida.

segunda-feira, setembro 12, 2011

dos dias perdidos num tempo
que dorme
calado
sereno
sob
a memória
distraída

quinta-feira, agosto 18, 2011

perfume

ah! quantas pétalas tem esse coração em flor
que desabrocha entregue
para ofertar seu perfume?

ao mundo

!!!

te amo

meu dengo...

sábado, maio 14, 2011

e quantas peles
preciso ter
pra resgar inteira
enquanto amanhece

quinta-feira, março 10, 2011

são só os olhos que dizem
as palavras são dispensáveis
o silêncio é ensurdecedor
na hora de se dizer...

quanto
o tempo
está aqui

é inútil
vaga a linguagem
sou mais a imagem
que não digo
que é quieta
e se basta

basta!

a mim
assim
só.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

Charles Bukowski