terça-feira, janeiro 02, 2007

A nós mesmos!!!

Sobrevivemos! Mais um ano escorregou por entre nossos dedos. Provando o quanto somos coadjuvantes da própria vida.
E o quanto, por maior que seja a dor, ela passa.
E para desespero de nossa veia dramática, percebemos que, no fundo, era menos dor que qualquer Pessoa nos poderia inspirar.
E chega ao fim. O ano. E se renovam as ilusões de que o calendário tenha algum efeito mágico sobre os humanos, estes seres superiores cuja maior proeza tem sido produzir maravilhas tecnológicas que para existirem ameaçam seu próprio inventor.
Mas sobrevivemos! À incoerência, ao cinismo, à intolerância, às guerras, ao poder.
E assim subvertemos o desfecho a que a decepção, a descrença, o medo, o ceticismo e o cansaço poderiam nos levar (o fim da História?). E vamos à praia. Ainda.
Sobrevivemos às notícias, à mídia, aos fins, aos meios, ao fatalismo, à economia, ao mercado, ao trabalho, ao mercado-de-trabalho,
à acidez Dogville, a nós mesmos.
Sobrevivemos às propagandas a irrigarem olhos e bocas, às compras, às filas, às liquidações, às parcelas (que carregaremos pelas próximas faturas), às festas, aos parentes distantes (abraços que nos alcançam...), às comidas, às bebidas, e ainda temos que agradecer por tais aborrecimentos inerentes a nosso modus operandi.
Alguns vizinhos, do andar de baixo da pirâmide, sobrevivem à fome, à sede, à chuva, à indiferença, às diferenças, ao (su)posto de saúde, à falta de (qualquer) trabalho.
Sobrevivemos aos ônibus-crematório, às balas certeiras, ao réveillon do samba retocado (???) misturado ao hip hop açucarado à moda barbie. Êta imperialismo onipresente. Será o Benedito?
Ao vazio que as festas não preenchem, ao silêncio que os fogos de artifício não calam, à saudade de uma alegria abortada que sorrisos adultos não conhecem.
Sobrevivemos e sobreviveremos a mais um ano que se inicia para, ao final contabilizar vitórias comezinhas como uma pós-graduação, mudança de cargo, ou mais um flerte inconseqüente.
E eu, esse Abaporu anacrônico, afônico e mal-pago apenas suporto e me comporto sob os proparoxítonos rituais civilizatórios contemporâneos.
Portanto, mais que nada, mais que nunca, que mais resta? Em uma tarde chuvosa de 1º de Janeiro, me socorrem as memórias de Dom Casmurro, e Renato distraído, tranqüilo, e tão contente. Então viro a folhinha, confiro a validade de meus ácidos, alinhavo algumas idéias sem prumo (sublimação necessária) e respiro fundo que amanhã encaro o batente cedo.

domingo, dezembro 31, 2006