sexta-feira, setembro 14, 2007

Sem que nem mesmo você saiba

"Tenho pensado sobre as sensações que me assaltam durante minhas viagens diárias do trabalho até minha casa. São sensações que oscilam entre a coragem e o medo; o ânimo e a timidez; a iniciativa e a inércia; E quando penso nesse pêndulo em que me tornei, me vejo flutuando por sobre as pessoas, os lugares, os pensamentos.
Fluida e etérea.
Sou elástica: vou e volto sem sair de mim.
Capturo por segundos o (teu) olhar que desejo e o guardo na memória.
Assim ele é meu sem deixar o lugar onde está.
É meu sem que nem mesmo você saiba.
Sinto uma solidão de um azul tão profundo que me abraça, me acaricia e aprisiona.
E aceito esse colo pela conveniência da rotina segura.
Aqui aprendi a conjugar a vida no futuro do pretérito.
Uma espera passiva por algo que, ao não acontecer confirma a espera.
Minha história é uma fotografia em cor sépia.
Esmaecida, amarelada.
Meu gosto é gostaria.
Minha vontade é só torcida.
Minha eloqüência é esse silêncio que ninguém decifra.
E mesmo assim aqui estou. Parada. Perto. Pronta.
E anseio, observo, busco em sua expressão cansada um fio de esperança, de ilusão de que você seja a exceção que procuro e que (por isso) me paralisa".


Texto inspirado na personagem "Senhora" da peça "Mais Um" do dramaturgo paulista Cássio Pires.