"Tenho pensado sobre as sensações que me assaltam durante minhas viagens diárias do trabalho até minha casa. São sensações que oscilam entre a coragem e o medo; o ânimo e a timidez; a iniciativa e a inércia; E quando penso nesse pêndulo em que me tornei, me vejo flutuando por sobre as pessoas, os lugares, os pensamentos.
Fluida e etérea.
Sou elástica: vou e volto sem sair de mim.
Capturo por segundos o (teu) olhar que desejo e o guardo na memória.
Assim ele é meu sem deixar o lugar onde está.
É meu sem que nem mesmo você saiba.
Sinto uma solidão de um azul tão profundo que me abraça, me acaricia e aprisiona.
E aceito esse colo pela conveniência da rotina segura.
Aqui aprendi a conjugar a vida no futuro do pretérito.
Uma espera passiva por algo que, ao não acontecer confirma a espera.
Minha história é uma fotografia em cor sépia.
Esmaecida, amarelada.
Meu gosto é gostaria.
Minha vontade é só torcida.
Minha eloqüência é esse silêncio que ninguém decifra.
E mesmo assim aqui estou. Parada. Perto. Pronta.
E anseio, observo, busco em sua expressão cansada um fio de esperança, de ilusão de que você seja a exceção que procuro e que (por isso) me paralisa".
Texto inspirado na personagem "Senhora" da peça "Mais Um" do dramaturgo paulista Cássio Pires.